Alfred Joseph
Hitchcock nasceu em Londres, no dia 13 de agosto de 1899. Começou sua carreira
como desenhista de legendas para filmes mudos. Em 1925 assinou sua primeira
obra-prima como diretor: "The Pleasure Garden" . A partir de então,
foi responsável por inúmeras cenas antológicas do cinema. Seu estilo
inconfundível de filmar, juntando-se à originalidade de suas estórias e sua
ousadia, com temas tabus para a época, lhe conferiram a alcunha de Mestre do
Suspense. Suas obras são constantemente reprisadas pelos canais de televisão,
bem como alvo de estudo em muitas universidades, tanto de cinema, quanto de
psicologia ou sociologia. Tais fatores, ligando-se às suas costumeiras e
esperadas aparições, em seus filmes, sempre plenas de inteligência e bom humor,
fizeram de Hitchcock um dos cineastas mais famosos e cultuados do mundo. Sua
habilidade, para contar estórias, influenciou e influencia até hoje gerações de
cineastas; dentre os quais, destaco: François Truffaut (o qual escreveu um
livro acerca de sua amizade e convivência com o Mestre.), Brian de Palma e,
mais recentemente, o indiano M. Night Shyamallan, em cujas obras há sempre
viva aquela tão hábil capacidade - e a qual o Cinema de hoje tanto carece - de
manter o espectador em constante expectativa quanto à próxima cena.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Em Defesa de “O Anticristo”
O
Anticristo, clássico italiano, dirigido por Alberto de Martino, foi, para mim,
desde a infância, um filme muito marcante. Primeiramente pelo fato de havermos
nascido para o mundo no mesmo ano (1974), além do que, no final da década de
1970 e início de 1980, este filme foi exibido algumas vezes, em versão dublada,
pela Rede Record (época em que a emissora pertencia ao Grupo Paulo Machado de
Carvalho) e pela Bandeirantes, na Sessão Sexta-Mistério. Lembro perfeitamente
de meu pai assistindo a esse filme, sentado na poltrona de nossa sala.
Quando
lançado em VHS, pela DIF (Seu Melhor Programa em Vídeo), em 1983, apenas uma
única videolocadora de minha cidade (Amparo - SP) o possuía em seu acervo. As
pessoas, entretanto, possuem certo preconceito (pré-conceito) em relação
àquelas películas consideradas datadas, preferindo, infelizmente, produções
recentes e com forte apelo comercial, nas quais temos, na maioria das vezes, um
roteiro paupérrimo, bem como protagonistas, com atuações carentes de talento e
que beiram a infantilidade.
Por
essa razão, O Anticristo estava sempre na prateleira. Nunca, enquanto
frequentei aquela locadora, vi esse filme sair de lá. Estava sempre na parte de
baixo da prateleira, num canto quase esquecido da locadora, fazendo companhia
para outros títulos do gênero, protagonizados pelos grandes canastrões do
horror (Peter Cushing, Vincent Price, Christopher Lee, John Carradini, Boris
Karloff).
Diversas
vezes quis assistir a ele. Chegava a pegar, mas na hora H desistia. Meu pai
jamais permitia que eu chegasse à sala, nas raras ocasiões em que a Tevê o
exibia. Foi somente em 1988, então com
14 anos, que tive coragem para locar e, pela primeira vez, apreciá-lo.
Confesso, fiquei chocadíssimo. Pensei
que nunca mais fosse querer olhar para esse filme.
O
tempo passou, no entanto nunca me esqueci daquela primeira experiência. Sempre
quis pegar novamente “O Anticristo”, a fim de fazer uma nova leitura. Reafirmo
que sempre fui fã do Terror Antigo, contudo sempre achava uma desculpa para não
locar novamente o filme. Em 1992, entrei para a faculdade de Letras. Nesse
ínterim a locadora foi vendida e o então novo proprietário fez uma verdadeira
limpeza naquilo que ele chamou de velharia, colocando, em seu lugar, somente os
filmes mais comerciais, por isso de fácil e garantido retorno financeiro.
Certo
dia, em 1994, passando por lá, entrei e, ao constatar que o “O ANTICRISTO”
havia desaparecido, dirigindo-me ao balcão perguntei onde ele estava. A garota,
que deveria ter seus 14, quando muito 15 anos, olhou-me como se eu houvesse
falado o pior palavrão do mundo, ou como se eu fosse um louco que tivesse
inventado o nome do filme e estivesse gozando com a cara dela... Resultado: foi
buscar um título que divergia, e muito, da pergunta que eu havia feito.
Como
paciência não é meu forte, principalmente em relação a filmes que as pessoas
desconhecem (e parecem ter preguiça de procurar conhecer), já estava dando as
costas para a menina, quando a senhora, dona da locadora, me deteve,
avisando-me de que os filmes, que estavam em desuso, encontravam-se no porão da
locadora e se eu tivesse interesse em assistir a algum, ela poderia me entregar
a chave para que eu mesmo o fosse buscar, porque o cheiro de mofo era muito
forte, devido à umidade do local.
Corajosamente,
enfrentando meu próprio problema respiratório, lá desci. Ao abrir a porta, fui
banqueteado com verdadeiros clássicos há muito esquecidos, mas que,
infelizmente, ao abrir os estojos, nos quais as fitas estavam, pude constatar
que havia camadas de bolor sob o rolo plástico das fitas e sobre as mesmas.
Penalizado
com tal situação, abri minha carteira e contei o dinheiro de que dispunha.
Peguei alguns títulos (O Pescador de Ilusões – A Casa do Terror – À Sombra do
Vulcão - Dr. Phibes - Feitiço da Lua), todavia não conseguia localizar aquele,
pelo qual tanto buscava. Comuniquei o
fato à senhora e apresentei-lhe os filmes que havia pego. Ela disse que
precisaria, antes de tudo, relança-los a fim de que eu pudesse locá-los. Para
sua surpresa, eu afirmei que não era meu desejo alugá-los, mas sim adquiri-los.
Ela contra-argumentou, dizendo que estavam embolorados. Deixei claro que, para
mim, não tinha importância, porque pretendia desmontá-los e limpá-los. Ela me
respondeu que iria consultar seu sócio e que, após a resposta dele, eu poderia
leva-los. Quanto ao “O Anticristo”, ela dispôs-se a procurá-lo para mim. Isso
se deu numa quarta-feira.
Na
sexta-feira, fui buscar os filmes. A
moça do balcão me disse que podia leva-los por Cr$ 800,00 (Oitocentos Cruzeiros
Reais) e que havia encontrado o filme de Alberto de Martino, mas que,
infelizmente, estava muito mais embolorado que os outros e, por isso, a dona do
estabelecimento, caso me interessasse ainda, iria fazer um desconto por ele.
Sem pensar duas vezes, paguei a importância e fui para casa. Antes disso passei
na farmácia, adquiri álcool isopropílico, num supermercado comprei benzina e
numa loja de fotos comprei algumas fitas Verbatim, de 120 minutos (Essa marca
era a mais barata e iria servir perfeitamente, para o que eu pretendia fazer).
Já
em casa, de fato vi que “O Anticristo” era o que se encontrava em estado mais
crítico, logo teria que ocupar-me primeiramente de sua restauração. Umas dez e
meia, onze horas da noite, quando minha mãe e irmãs já haviam se recolhido, dei
tratos à “restauração”. Abri a fita
Verbatim e cortei, na altura em que a fita transparente encontrasse com a fita
magnética, a bobina vazia (aquela do lado esquerdo). Repeti a operação na fita original (selada),
já aberta. Ao cortar a bobina bolorenta, porém vazia, remendei, com fita
própria para essa atividade, a que havia cortado da Verbatim.
Com
um chumaço de algodão, levemente umedecido com benzina, comecei a transferência
da fita de uma bobina para a outra, limpando com este a parte superior. Quando
a operação acabou, protegi o rolinho limpo com um plástico e limpei muito bem a
carcaça da fita, trocando as travas de segurança desta pelas da Verbatim. Isso feito, enrolei a fita virgem na bobina
que havia tirado do VHS original, agora limpa com benzina.
Trocadas
as duas bobinas do Vhs original, fechei-o e, com um algodão com álcool, afixado
na pare de cima da carcaça da fita, rebobinei-a num vídeo antigo, com o tampo
aberto. Resultado: o filme ficou novo em folha (pelo menos exteriormente,
restava saber se o conteúdo também estaria).
Deixei o VHS em repouso, durante o restante da noite e fui me deitar. Já
eram ,então, quase cinco da manhã.
Quando,
no dia seguinte, fui ver o resultado, felicíssimo, constatei que o início da
fita estava perfeito. A fita começava, após as advertências de praxe, como bem
me lembrava, com os dizeres “DIF, seu melhor programa em vídeo”, ao término dos
quais seguiam-se os trailers "LUCA, O
CONTRABANDISTA" e o nacional "SIGNO DE ESCORPIÃO", direção de
Carlos Coimbra, intercalados, é claro, pelos anúncios da DIF, já citados acima.
E o filme começava: EDMONDO AMATI Presents CARLA GRAVINA, MEL FERRER, ARTHUR
KENNEDY: “THE ANTICHRIST” (Copyright: Capitolina Produzioni Cinematografiche
s.r.l. MCMLXXIV – All Rights Reserved.). Seguiam-se os demais créditos e a tela
se abria, mostrando-nos aquela procissão, pelas ruas de Roma, na qual os fiéis
pagavam suas promessas, bem como ofereciam sacrifícios. Muitos manuseavam
cobras, a fim de mostrar a força de sua fé. A câmera logo deixa esse ambiente,
focalizando suas lentes no santuário da virgem, em que vemos Ipólita, em
companhia de seu pai, Mássimo, buscando por um milagre.
Assisti, por falta de coragem, confesso,
até a parte do suicídio de Andário, em meio à chuva, justamente no ponto em que
uma velha, desdentada e de lenço sobre a cabeça, abrigada do mau tempo, próximo
ao local onde está Ipólita, diz: “Não adianta fazer nada, ele já está morto
para sempre”. Ejetei a fita, limpei as
demais e assisti a todos os títulos. Na segunda feira, fui à locadora. A garota
atendente foi me encontrar a porta, pedindo-me que lhe emprestasse o “O
Anticristo”, porque na sexta, assim que deixei o estabelecimento, sua patroa
havia se desmanchado em elogios ao filme, julgando-o, até mesmo, muito superior
ao “O Exorcista”, feito um ano antes. A adolescente, mediante tal propaganda
positiva, havia se sentido curiosa. Antes de responder, pensei comigo: Se essa
menina, que é pouco mais que uma criança, assistir até o fim, eu também
consigo. À tarde levei o filme para ela e prometi deixar até o final de semana,
assim ela poderia apreciar com calma.
No sábado, à noite, fui buscá-lo e qual
não foi minha surpresa ao saber que a garota, não só havia gostado, mas também
feito a maior propaganda, reunindo uma porção de amigos para várias sessões. A
dona da locadora assistiu ao filme novamente, após muitos anos, e mostrou-se
muito satisfeita com o serviço que eu havia feito. Disse-me que a imagem estava
cem porcento e que havia mostrado ao sócio e que este, por sua vez, havia feito
a mim a seguinte proposta: Eu limparia todos os títulos, constantes no porão, a
troco de todos aqueles pelos quais me interessasse. Sem esperar que ela repetisse, aceitei o
acordo. Coloquei o acervo do porão na caçamba de uma saveiro e, ao chegar a
casa, dei início à operação, ao término da qual havia separado, para meu acervo
pessoal, duzentos e vinte e dois títulos.
Voltando ao VHS “O Anticristo”: naquele
mesmo final de semana assisti a ele várias e várias vezes e deixei-me encantar
pela história. Claro é que, na época, muito da riquíssima simbologia do filme
passou-me despercebido (tinha só vinte anos), porém compreendi algumas
particularidades que dão seguimento à trama, tornando-a compreensível a quem
venha a apreciá-la.
Um dos pontos que primeiro chamaram-me a
atenção foi no próprio santuário da virgem, quando Ipólita dispõe-se a caminhar
até a imagem. Se prestarmos a atenção à cena, podemos, claramente, observar o
olhar de desafio e soberba que emana dos olhos da santa. Como se a imagem estivesse
provocando a paralítica a ir até ela e, ao mesmo tempo, duvidasse de que ela
fosse capaz.
Outro ponto que vale salientar é aquele
em que, após sair do santuário, Ipólita vai para casa, acompanhada por seu pai
e podemos observar, pouco antes do elevador abrir para o corredor da
residência, o olhar, cheio de expectativas e esperança, da governanta, quando
esta vai ao encontro da jovem; podemos ver este mesmo olhar desfazendo-se,
quando a cadeira de rodas sai para o corredor. Isso quer mostrar-nos o quanto
essa governanta, brilhantemente interpretada por Alida Valli, encorajou a jovem
a ir àquele lugar. Essa demonstração de carinho e compaixão pela jovem patroa
tornou a repetir-se, no meio do filme, quando ela chama aquele curandeiro (o
popular benzedor) para, em vão, tentar ajudá-la.
Há o padre Mitner (Micna no VHS) que,
por uma questão envolvendo reencarnação, já sabia, desde o início, o que iria
acontecer. Tanto que, quando todos já
davam o caso como perdido, ele bate à porta dos Oderise e, para perplexidade de
todos diz: “EU SOU O PADRE MICNA. ACHO QUE VOCÊS PRECISAM DE MIM...”. Pouco
antes de Ipólita ser queimada como bruxa, na Idade Média, o padre Mitner dá-lhe
a absolvição, expulsando, dessa forma, o demônio. Tanto que ela morre beijando
a cruz, arrancada, pouco antes, durante sua agonia, do pescoço do padre.
Quando Ipólita delira, nua na cama, e
sonha com aquela sua encarnação passada e vê-se numa orgia satânica, podemos
observar, no lençol branco, assim que aquele sumo-sacerdote a penetra, marcas semelhantes
a patas de bode. Ou seja, é uma gritante demonstração de que é o demônio que,
embora invisível, está copulando com ela.
Tudo isso pude perceber com minha então
limitada percepção de jovem de vinte anos.
Com o tempo, vieram os aparelhos de DVD
e os videocassetes caíram em desuso. Como havia usado os meus até gastar,
acabei deixando os VHS de lado. Consequentemente “O Anticristo”, após muito
rodar pelo cabeçote, é claro, acabou, por essa razão, indo para uma caixa que
era guardada em cima de meu guarda-roupa.
Quando foi no ano de 2009, em meio a uma
conversa, um amigo ofereceu-se para converter meus VHS (es) em DVDs.
Explicou-me que não iria me cobrar nada, simplesmente, porque ele próprio tinha
vontade de rever o terror italiano.
Ao devolvê-lo a mim, já convertido em
DVD, pude apreciar, novamente, após quase uma década sem ver sequer uma imagem
dele, o filme pelo qual tanto me empenhei, em meados dos anos 1990. Confesso
que, aos 35 anos, minha impressão sobre “O Anticristo” mudou para melhor. Por
essa nova percepção, pude constatar toda a simbologia do filme e apreciá-lo com
o mesmo prazer sentido por um enólogo, quando suas papilas gustativas entram em
contato com um raro vinho. Posso, por esse fato afirmar que a produção de
Alberto de Martino não é uma cópia deslavada do filme de William Friedklin, mas
sim obra-prima rara, plena de simbolismos, profundidade e metáforas, enfim um
achado.
Em primeiro lugar, se prestarmos bem a
atenção ao filme podemos perceber que o demônio faz-se presente desde o início
da projeção, mais especificamente entre as pessoas que superlotam aquele
santuário, buscando um milagre para suas almas espiritualmente combalidas.
Podemos, claramente, observar a presença maligna nos olhares de desafio da
virgem, que parecem, a todo instante, apenas se dirigirem à Ipólita. Há, além
disso, os constantes closes em que a câmera se detém sobre o Escapulário preso
ao pescoço de Andário. Podemos compreender, com isso, que o Mal é capaz de
ocultar-se até mesmo em objetos considerados sacros.
Pouco mais tarde, já na residência dos
Oderisi, ao entrar no quarto, acompanhada pela governanta Irene, Ipólita pára,
ao escutar o sussurrar demoníaco e, retrocedendo um pouco a cadeira de rodas,
até o corredor, pode ver seu pai numa demonstração de carinho dirigida à jovem,
que seria sua futura madrasta.
Freud, através da psicanálise, nos prova
que a filha possui um natural fascínio pela figura paterna, bem como o filho
pela materna. Tal fascínio, longe de ser um incesto, é capaz de provocar
extremas crises de ciúme e revolta, se, porventura, um dos pais vier a colocar
um indivíduo em sua vida. Essa pessoa, aos olhos do (a) filho (a) será sempre
um estranho, um intruso que veio tirar todo o carinho e a atenção que, até
então, era exclusivamente seu. Essa foi uma das fraquezas espirituais e
psicológicas de Ipólita; uma brecha que permitiu a entrada do demônio.
(Situação esta agravada ainda mais pelo fato de a namorada paterna ter
praticamente a mesma idade de Ipólita, ou talvez ainda mais jovem – uma estudante,
nos dizeres desta).
Quando Ipolita abre o porta-joias e lá
encontra o escapulário de Andário, com a fisionomia de Cristo demonificada,
exibindo, ao invés de seu Sagrado Coração, um enorme falo ereto, percebemos a
referência a Baphomet, que era a figura pela qual o clero da idade média
descrevia o diabo. A figura de Baphomet
era utilizada pelos satanistas nas práticas de rituais de cunho sexual,
inclusive práticas homossexuais. Sua aparência, era a de um homem com cabeça e
patas de um bode, detentor de um falo (pênis) enorme. Podemos ver explicitamente Baphomet
representado na presença do Sumo-sacerdote, que preside aquela orgia, durante
um dos delírios satânicos de Ipólita. Além disso, o filme deixa bem claro, ao
expectador atento, que é justamente nesse ritual que ela engravida do
Anticristo. (Lembremos as marcas de patas de bode presentes no lençol branco,
durante o delírio).
O demônio vinha perseguindo a alma de
Ipólita, procurando por uma porta aberta, para sua entrada, desde sua
encarnação passada, como religiosa que, forçada pela família a entrar para o
convento, renuncia sua fé crista a fim de, em busca de uma falsa sensação de
liberdade, unir-se a adoradores do diabo. É derrotado pelo padre Mitner, de
quem ela recebe a absolvição, porém ressurge na então presente encarnação de
Ipólita, perseguindo-a desde que ela era uma garota. Podemos ver um sapo
decapitado em meio às chamas provocadas pelo acidente que a deixou
psicologicamente paralítica. Aliás, o sapo é figura constante durante todo o filme,
pois esse animal é utilizado pelas bruxas e satanistas como uma espécie de
Cordeiro do Diabo, ou seja, assim como os cristãos de outrora imolavam o
cordeiro, em adoração a Deus, os seguidores do diabo sacrificam o sapo em honra
daquilo em que creem. Por essa razão o
batráquio se faz presente no meio das hóstias, durante a comunhão satânica e na
hora em que o padre Ascânio, irmão de Mássimo, está, em vão, tentando expulsar
o demônio do corpo da sobrinha.
A cruz invertida, assim como a cabeça do
jovem virada para trás são símbolos do anticristo. No caso a cruz simboliza os
satanistas medievais, tais como os mostrados no filme, já que suas cerimônias
estavam baseadas em dogmas avessos ao cristianismo. Muitas seitas satânicas,
até os dias atuais, utilizam a cruz como símbolo do anticristo, representando
as forças do mal ou do diabo, bem como a negação aos dogmas do cristianismo.
No caso do jovem, durante a excursão, a
cabeça virada ao contrário significa o Olhar Para Trás, a involução humana, ou
seja, o Homem Invertido, uma das marcas do anticristo. (o 9 = evolução; o 6 =
involução – daí o número da besta, do anticristo, ser 666, ou seja, o homem
sobrepujado às forças do mal, sob total domínio do diabo). Há também, a meu
ver, nessa mesma cena, uma inconsciente vingança de Ipólita sobre a atitude
paterna (impulsionada pelo demônio, é claro): O pai fora capaz de, a seus
olhos, seduzir uma estudante mais jovem, logo sua filha poderia, por sua vez,
seduzir um estudante, igualmente mais jovem.
Durante alguns pontos chaves da trama,
Ipólita manifesta certa sensibilidade psíquica, como por exemplo, naquela
charada, proposta no decorrer da festa, na qual diz, confirmando mais tarde o
que está escrito no papel dobrado, não ser possível, na matemática, a soma de
dois e dois serem cinco. Em outro momento, na mesma cena, Dr. Sinibaldi é
introduzido por Fellipo e apresentado, por este, a Ipólita e ela, por sua vez,
indaga se ele é um psiquiatra, obtendo imediata confirmação, para espanto
deste, bem como do próprio irmão. Em última análise há aquele ponto em que
Mássimo e sua namorada estão passeando descontraidamente pelas ruas de Roma e
Ipolita, após esbarrar na fotografia paterna, quebrando-lhe o vidro, consegue
visualizá-los, ao ponto de transferir sua raiva àquele cachorro que avança
sobre os enamorados. Podemos ter a certeza disso ao vermos que o pai, enquanto
abraça a jovem namorada, recorda-se, pensando simultaneamente na filha, do
misterioso ataque canino.
Desde o princípio até o emocionante
desfecho, nas ruínas do Coliseu (local onde, coincidentemente ou não, os
cristãos eram massacrados na era dos Césares), “O Anticristo” prende-nos a
atenção, não como uma mera cópia barata de “O Exorcista”, mas sim uma Obra de
Arte, que somente não se sobrepôs ao clássico hollywoodiano, pelo simples fato
de não haver sido financiada por um desses grandes estúdios que imperam sobre a
Meca do Cinema.
Hoje, tal como “O Anticristo”, estou com
49 anos de idade e, a cada vez em que assisto a ele, mais me surpreendo e me fascino com
as novas leituras que faço desde verdadeiro achado cinematográfico. É como se
os produtores desse filme o houvessem elaborado para ser uma referência eterna.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
Instrumento de Tortura do Catolicismo Pós-Moderno
Domingo fui à
missa com minha esposa. Como todos sabem, desde a mais tenra idade, vou a esse
lugar com a mesma disposição de um felino doméstico, quando vê-se obrigado pelo
dono a passar pela tortura da água e do sabão. Pois bem, vamos, né?
Como de praxe,
aquela anciã, com cara de piedade, veio nos encontrar, à porta do templo
religioso, a fim de nos dar o folheto para que acompanhássemos a tortura
(ops)... a cerimônia.
A missa, como
desde que Adão fez o catecismo, ocorreu no mesmo ritmo, que nos convida a ir
mais cedo para os braços de Morfeu (Canto de Entrada, Saudação, Ato
Penitencial, Oração, Primeira Leitura, Mais Oração, Segunda Leitura, Aclamação
do Evangelho, Evangelho, Credo, Oferendas, Preparação para a Comunhão, Pai
Nosso, Saudai-vos, Comunhão, Oração, Bênção e... Tchau - tudo isso, é claro,
intercalado por uma interminável sucessão de senta-levanta).
Onde estava
mesmo!? Bem, confesso, foi-me dificílimo chegar a um terço da missa, porém o
mais maçante foi quando o padre, após o evangelho, começou a homilia. Não pelo
fato de interpretar as palavras da Sagrada Escritura, mas sim por haver
literalmente viajado na maionese por intermináveis 45 minutos, nos quais ia e
voltava, falando de coisas que, muitas vezes, fugiam à liturgia dominical.
O mais engraçado
e que chamou-me mais a atenção é que finalmente compreendi o porquê de eu ter
verdadeira fobia de missa: Ao olhar aquelas pobres crianças, de quatro, cinco
até uns dez anos, pude me visualizar na impaciência daqueles coitadinhos que,
sem vontade própria, são praticamente arrastados ao cadafalso, são gado levado,
sem consciência, ao abate...
A essa altura,
eu já estava com aquele ânimo de quem chegou às seis da manhã da balada, num
domingo e vê-se obrigado a atender Testemunha de Jeová, às seis e meia no
portão de casa ou é obrigado a agüentar o vizinho ouvindo Funk desde as
primeiras horas matinais, ou ainda ser obrigado a escutar o alto-falante da
igreja mais próxima difundindo aquela insuportável canção indígena de uma
Campanha da Fraternidade que já lá vai...
Pus-me a
pensar: Como os pais podem ser tão cruéis a ponto de submeterem seus rebentos a
uma prática a qual ainda não compreendem o significado? As crianças tendem a
impacientarem-se sim. E o mais triste, ainda por cima, é o fato de terem a
atenção chamada por uma falta de que nem sequer têm consciência de haverem
praticado.
Sou, por
experiência e trauma próprios, partidário a que os pais, se tiverem um
pouquinho de coração e bom-senso, é claro, deixem seus filhos, quando forem a
uma cerimônia religiosa, sob os cuidados de algum outro responsável (avós,
tios, casa de amiguinho, sob a supervisão dos pais destes), a fim de, dessa
forma, evitarem futuras rebeldias e fugas da educação cristã... Deixemos sim
que o Ser Humano, em formação de caráter, decida, por si só, aquilo que quer
para a sua vida... Tenho certeza de que os frutos colhidos serão mais sazonados
e melhor apreciados...
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