quinta-feira, 24 de julho de 2014

Um Mundo Absurdo Pelo Qual Passeia Uma Adolescente Tipicamente Inglesa




"(...)e a Rainha, indignada, levantando-se do trono, ordenou: 'Cortem-lhe a Cabeça!' "

Uma tirana e perversa Rainha de Copas, um coelho que manipula seus soberanos, um Rei apático, uma criança que vira porco. Todos esses elementos nasceram através da mente de um tímido matemático inglês, que, após sofrer um forte abalo, pela morte materna, resolveu dedicar-se ao estudo do comportamento infantil.
Filho de um clérigo, Lewis Carroll, o criador de Alice, cujo verdadeiro nome é Charles Dodgson, nasceu em Cheshire, Inglaterra, em 1822. Realizou seus estudos em Oxford, onde permaneceu trabalhando, como professor e conferencista.          
Sentia-se bem na companhia de crianças, apreciava desenhá-las e fotografá-las. Com os adultos sofria grande entrave para se comunicar. Tal fator fez que Carroll não contasse com muitos amigos entre eles.
Passava a maior parte do tempo livre em companhia das crianças da família Liddell. Para elas, Carroll inventava longas e incríveis estórias, nas quais o fantástico e o absurdo constituem o centro da narrativa.
 Certa vez, ao sair, a passeio de barco, com as meninas Liddell, começou a narrar-lhes uma estória cuja protagonista era a mais nova das três jovens acompanhantes, Alice. Diante da reação das meninas, Carroll viu-se incentivado a publicá-la. Assim nasceu Alice No País Das Maravilhas, seguido, depois, por Alice Através Do Espelho. Nesta última, o tema central é uma partida de xadrez, cujos personagens são as peças.
O estilo em que a narrativa de Alice se apresenta,  o modo pelo qual o mundo real adentra o irreal, bem como a atmosfera onírica e de subconsciência, faz-nos chegar a conclusão de que essa obra, originalde pouco depois da metade do século XIX, seria, em realidade, precursora de um importante movimento artístico, surgido mais tarde em literatura: o Surrealismo.
De fato, se nos detivermos a analisar os capítulos de Alice, com suas situações fantásticas e suas alegorias da realidade, poderemos, facilmente, constatar que, por exemplo, a hora em que Alice mergulha na toca do coelho, seria, de modo hábil, perfeitamente ilustrada por Dali, principal expoente desse movimento  nas artes.
 Ao contrário do que muitos leitores pensam, Alice é uma obra aparentemente infantil. Além do verdadeiro choque de realidades que é a passagem da infância para a adolescência, tão genialmente simbolizado, na obra, pela toca do coelho, Carroll, ao criar as personagens de seu livro, não se embasou apenas na jovem Liddell, mas também em importantes figuras pertencentes à aristocracia britânica da época, dentre as quais a própria Rainha Vitória, a qual é apresentada como sendo de fraca personalidade, superficial em suas opiniões e julgamentos e, acima de tudo, manipulável, protegida por um exército frágil, tal como um castelo de cartas.
Assim como outros satiristas, Carroll utilizou seu país de maravilhas para, em suas entrelinhas, expressar seu pesar quanto à monarquia, bem como quanto a uma sociedade composta por nobres e aristocratas que não possuiam tempo para o povo, mas sim visavam seus próprios interesses e bem-estar.
Como considerações finais, gostaria de manifestar aqui dois pensamentos que me ocorreram, enquanto escrevia, ao amigo leitor, estas amadorísticas linhas. Se fosse escrito hoje em dia, em pleno século XXI, em que a Família Windsor mostra, após inúmeros escândalos, visíveis sinais de desgaste, assim como o Paralamento Britânico perde lentamente a famosa autonomia, a imortal obra-prima de Lewis Carroll, acertadamente, seria publicada sob o título "Alice No País Do Caos". Já o seu autor, devido a seu justificável apego às crianças, sem sombra de dúvidas, já teria sido denunciado, como pedófilo, por algum dos desocupados militantes da Vara da Infância e Adolescência, e estaria, em algum presídio inglês, cumprindo sua injusta e infundada pena.






Nenhum comentário:

Postar um comentário